27 março, 2008

Rendimento desportivo/ Rendimento Escolar





Após mais uma temporada de estudos e desporto, e porque chegamos àquela data de analisar os resultados escolares, apetece-me deixar aqui ligeiras considerações, sobre o tema.


Quantas vezes nós pais de atletas não ouvimos dos nossos amigos e familiares, a critica de que é um exagero o tempo que as miúdas dedicam à ginástica? ... que não tem mais tempo para elas nem para os estudos criando muitas vezes em nós a sensação de desconforto que não fazemos o melhor pelas nossas pequenas? ...tantas vezes.

Digo sempre que não os posso censurar, também eu, em tempos teci um desses comentários, e que por isso os entendo bem.

Na procura de respostas e confirmações de que o caminho escolhido por nós é o melhor(ou pelo menos aceitável), procurei saber mais, estudar a situação e encontrar algo que me documentasse sobre o bem, ou o mal, que a actividade desportiva pode ter na vida de uma Criança/ Adolescente/ Mulher. Encontrei na net, quase nada sobre o assunto(assim como as considerações são ligeiras também a busca o foi :) pouco poderei tirar de estudos feitos. Posso sim, e após a experiência de cinco anos de pai de duas atletas estudantes, olhar para o percurso delas e analisar, comparar e projectar aquilo que eventualmente poderá ser o seu futuro mais próximo. Posso dizer que mesmo nas alturas mais complicadas de actividade desportiva o rendimento escolar se manteve em níveis muito aceitáveis e em alguns casos mesmo, em níveis de excelência. Pode-se perguntar: "E se não estivessem na ginástica? ...provavelmente era ainda melhor!" pois, talvez, ou talvez não. Nunca o saberemos.



:: Desde o tempo dos nossos avós, Trisavós das nossas filhas, que se apregoa ao bem da prática do desporto, engraçado é, em tanto tempo, este nosso belo país à beira mar plantado pouco ou quase nada ter feito para que esta realidade fosse, no mínimo, fácil de por em prática ::


Podemos no entanto dizer que se não estivesse na ginástica, os níveis de responsabilidade, coordenação trabalho e dedicação a uma actividade, coisas que se aprendem e ficam para o futuro, não existiriam. Não estou com isto a dizer que quem não pratica está "condenado", não é isso que quero dizer, mas praticando, é mais uma base, é mais uma "pedra" nas fundações de uma vida que as crianças começam a construir cedo, em tenra idade.



:: Maria e Bruna Canilhas ::


Também há quem diga que ..."agora é fácil, espera mais um ano ou dois vais ver, aí é que a "coisa" dá para o torto". Fico sem resposta, como é óbvio. Mas consigo perceber pelo comportamento e resultados que as "coisas" embora se compliquem, (sim, as "coisas" já foram mais fáceis do que actualmente) se os procedimentos e atitudes se mantiverem os obstáculos serão, com maior ou menor dificuldade, passados com sucesso. Caso contrário cá estaremos para tomar opções difíceis. Ou não fosse essa a sina dos pais.

Por falar em opções difíceis, lembro-me de um caso em que a opção tomada no sentido de melhor conciliar os estudos e a prática da modalidade, não deve ter sido nada fácil, quer para os pais quer para a atleta em questão. Sim, "guardar na prateleira" o conforto da terra mãe e arrancar para uns milhares de quilómetros de distância para continuar a sua formação académica e desportiva não foi seguramente uma decisão fácil de tomar.
Estou a falar de Caterina Ivanova. Estudante numa fase mais adiantada, a tal em que supostamente as coisas se complicam.

Em conversa com a Caterina fiquei a saber que a sua vivência com estes dois factores(estudo/desporto) sempre foi pacifica, sem grandes problemas principalmente até ao 9º ano, mesmo que por essa altura tenha acontecido a maior carga de estágios da Selecção Nacional para além da normal actividade no seu clube.

Com a passagem para o 10º ano, inscrita em Ciências e Tecnologia e com uma carga horária pouco adaptada à prática de desporto de alta competição, as coisas complicaram um pouco(não estivéssemos nós em Portugal), ao ponto de no final, e após uma salutar auto critica, a leve a dizer e admitir que, para ela, nem as notas da escola nem os resultados desportivos foram muito bons. Referindo ainda que "...foi, não só por isso mas também, dai que veio a minha decisão de continuar os estudos aqui na Bulgária. Não queria deixar de treinar como deve de ser mas também não podia deixar a escola para trás de maneira nenhuma. Quando assim é, acho que se deve optar por uma coisa só, e fazê-la como deve de ser. E, na minha opinião, em Portugal o desporto não pode ser posto em primeiro lugar, por muito que nos custe a escola tem que estar em primeiro plano."

Actualmente na Bulgária, frequenta o 11º ano numa escola desportiva com treinos bi-diários que rondam as 7/8 horas. Segundo Caterina é uma escola como qualquer outra mas com a particularidade de ter todas as facilidades desportivas(Piscinas, pavilhões ginásios, etc) anexadas e para além do facto de professores e treinadores estarem em sintonia o que na minha opinião fará muita diferença em relação ao nosso sistema. Apesar de pensar que num futuro próximo não será fácil transportar aquela realidade para Portugal, Caterina diz que ..."o meu rendimento aumentou muito, tanto na escola como nos treinos, em relação ao ano passado e posso dizer que vale mesmo a pena." e termina com ..."É simplesmente outra forma de organização das coisas que pelo menos a mim não me parece ser impossível que venha a acontecer aí em Portugal...", "...resta esperar que alguém dê os primeiros passos! Eu acredito..."

Pois Caterina, eu sinceramente não acredito. Mas o que eu acredito é que tu ainda terás muito para nos dizer num futuro próximo, isso eu acredito.



:: Caterina no seu tempo de Infantil e numa actual pose bem disposta ::


A Caterina continuará por lá a sua formação, assim como tantas outras o fazem por cá. Umas conciliam ainda a faculdade com a prática do desporto outras não, umas abrandam o desporto no sentido de obter bons resultados escolares e outras desistem, optando no entanto por ficar ligadas à modalidade de tantos anos de prática.

Usando uma vez mais um caso prático, Ana Nunes, antiga atleta/ estudante frequenta actualmente o curso de Enfermagem e é treinadora de Ginástica Rítmica. Lembra que teve momentos complicados, mas sempre conseguiu coordenar as duas actividades. É verdade que a falta de tempo a obrigara a um maior esforço como estudante, é verdade que a ajuda materna fez toda a diferença é verdade que os horários compatíveis com a competição às vezes obrigam a mudanças nem sempre fáceis, mas...



:: Ana Nunes ::

...mas sempre conseguiu manter as suas notas permitindo-lhe encarar a competição e os progressos escolares com seriedade e confiança. Sendo actualmente estudante e estagiária de enfermagem, consegue ainda, com grande dose de dedicação, reservar aquelas que seriam as suas horas de descanso para o ensino da GR em colaboração com a sua irmã e treinadora principal Sandra Nunes. Não será este espírito de sacrifício um hábito ganho no tempo de atleta estudante?



:: Ana Nunes em 1997, ano em que venceu o Torneio Internacional de Portimão e Sandra Nunes, também em 97, numa actuação do Conjunto da Selecção Nacional no Campeonato do Mundo::


Outra vertente interessante deste mesmo assunto seria a análise a casos de atletas que por um motivo ou outro deixam a competição e ficam apenas com a responsabilidade dos estudos. Que melhoras consegue essa estudante? Será que melhora? Será que piora? Será que a maior disponibilidade de tempo a que não estava habituada vai ser bem aproveitada? ...bem mas isso ficará para próximos desenvolvimentos.

Conclusões, ... que conclusão tirar? ...não vou tirar conclusões.
Deixo essa tarefa a cada um dos meus amigos.

Fico apenas com a consciência tranquila no sentido de que acompanho de perto o evoluir das minhas duas atletas/estudantes. Ambas tem até agora os resultados escolares esperados e com o nosso apoio, irão superar as suas barreiras com alguma naturalidade. Espero ;)

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5 comentários:

Anónimo disse...

Belo "post" este. Parabéns!
Também sou um pouco céptica, mas a esperança é a última a morrer.
Força meninas, vocês são todas umas heroínas!
Beijos.
Dora

Anónimo disse...

Pois é boa apresentaçaõ de factos.
É uma vida complicada a de atleta. Em todas as modalidades não só na Ginástica.
Em qualquer desporto há esta caracteristica de sacrificio mas na minha opinião acho positiva a prática do mesmo.

É um bom tema para dscussão, neste, ou noutro blogue.

Parabéns às filhinhas que conseguem arcar com o peso da responsabilidade.

Anónimo disse...

Eu acho que esta modalidade não merece as atletas que tem.
Quanto ao desporto todos o devemos praticar, só faz bem.

Anónimo disse...

Falo por experiência própria. também fui ginasta e fiz parte de algumas selecções nacionais e sei que apesar de muitas vezes me queixar da falta de tempo para me divertir hoje em dia voltava a fazer tudo na mesma.

Aprendi a ser independente, a ser responsável e muito organizada, algo fundamental porque temos de saber aproveitar todos os minutos do dia da melhor maneira. E isso é muito bom para o futuro, porque sabemos lidar com a pressão, sabemos gerir o tempo e acima de tudo sabemos quando e como devemos fazer as coisas.

Temos uma disciplina que muitos jovens hoje em dia não têm e acabam por ter mais tempo que nós, mas deixam para fazer tudo o que têm para o dia seguinte, muitas vezes acabando por não fazê-lo.

Sem dúvida sabemos gerir muito melhor as prioridades do nosso dia-a-dia.

Beijinhos a todas as ginastas e continuem porque é possível conciliar as duas coisas e digo-vos que nunca tirem uma negativa na minha vida!

Anónimo disse...

tudo depende da criança...da vontade que esta tenha em querer evoluir na modalidade, seja ela qual for...
os pais têm que saber perceber o quanto a criança quer mesmo... por amor a camisola tudo se consegue...os pais tem q "apoiar" a criança mas não "obrigar", tem q haver muito equilibrio tambem da parte dos pais .
o desporto de alta competição, infelizmente não é para quem quer, mas sim para quem pode... um bem haja a todas as meninas que "podem" e que trabalham muito para conseguirem evoluir apesar de todas as contrariedades.
sandra

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